Dra. Isabelly,
Estou de volta.
Larguei os cadernos que usava pra descrever meus medos, dentro do guarda roupa. Estão mofados. Fedidos. Velhos. Recebi algumas ligações sua nos últimos dois anos. Estivemos juntas poucas vezes quando fazia meu convênio e acabamos perdendo o contato porque troquei o número do meu celular. Sabe doutora, eu tive medo de lhe contar meus novos medos. Porque quando a gente vai crescendo, eles vão mudando; uns desaparecem, outros nascem e é assim, a senhora sabe.
Pois bem, entrei na faculdade. Lembra do nosso último encontro em seu consultório branco e amarelo-bebê em que lhe disse que não tinha tempo pra contar "angústias imbecis de adolescente" pois tinha de estudar? Desculpa por não ter ligado dizendo que passei em segundo lugar em Jornalismo, eu fiquei sem graça em procurá-la depois de tanto tempo em que a senhora me esperou para mais uma sessão. Sei que você ficaria feliz com essa notícia.
Mas estou aqui. Firme e forte. E para a sua alegria, doutura Isabelly, cá estou eu escrevendo novamente meus medos. Estou escrevendo porque não posso gritar. E nunca gritaria, pois a senhora sabe o quanto finjo ser forte...
Eu sei que são coisas da vida o que acontece comigo. Uma vez minha mãe a comparou com uma montanha-russa: sobe e desce, sobe e desce. Temos nossos altos e baixos. Minha vida, meus dias, meus pensamentos, minhas paixõezinhas são uma verdadeira montanha-russa: sobem e descem o tempo todo. Isso cansa, doutora.
Cansa porque tudo é uma façanha, um jogo, uma coisa superficial. Nada aqui é duradouro, o pra sempre é uma mentira, mas tudo bem, quem foi que disse que eu acredito no "Pra sempre"? A senhora uma vez até soltou uma risadinha quando disse isso. Eu até tento fazer as coisas certas, mas já pus na cabeça que o problema sempre sou eu. Posso até imaginar seu semblante agora: me olhado com os olhos um pouco fechados fazendo sinal negativo devagar com a cabeça. A senhora sempre dizia que eu nunca me permitia, que sempre pensava muito e era esse meu problema. Doutora, eu não melhorei em nada...
Continuo me culpando por quase tudo o que acontece. Depois te montar todos os argumentos do mundo culpando fulano ou ciclando, no final assumo pra mim mesma que a culpada sou eu. Acho que eu deveria ligar para a senhora porque ultimamente meus amigos são o papel e a caneta, justamente pelo fato de eu tentar ser forte, evito falar para as pessoas o que venho sentindo. Tenho amigos, tenho bons amigos, mas sempre acho que eles podem me ver como uma fracassada. Pelo menos a senhora que está de fora não me veria assim. Prometo retornar ao seu consultório branco e amarelo- bebê.
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